Advogados com direito… à palavra”: Entrevista à Dra. Silviya Stamatieva – Advogada Associada
A Dr.ª Silviya Stamatieva, advogada associada na CEG & Associados desde junho, é a mais recente entrevistada da rubrica “Advogados com Direito… à Palavra”. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e com mestrado em Criminologia, Silviya reflete sobre as competências que considera essenciais para a profissão, a área do Direito que mais a cativa e o privilégio que é trabalhar num ambiente colaborativo como o da CEG.
- Em 2015, ingressou na licenciatura de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Sempre sentiu que a Advocacia era a sua verdadeira vocação? Houve algum momento específico que a fez perceber que este seria o seu caminho profissional?
Em 2015, quando ingressei na licenciatura de Direito confesso que não senti, na altura, que a Advocacia seria a minha vocação uma vez que, o próprio curso não está apenas direcionado para esta profissão, é bastante abrangente sendo que oferece um variado leque de saídas profissionais na área jurídica.
Ao longo dos 4 anos da licenciatura fui-me apaixonando cada vez mais pelo mundo jurídico e sabia que um dia, independentemente da profissão, teria de exercer nesta área de Direito.
Mais tarde, em 2019, já enquanto frequentava o mestrado, tive a oportunidade de ter o primeiro contacto com esta profissão e, foi aí que decidi que, após a conclusão do mestrado, iria fazer o estágio para ingressar na Ordem dos Advogados.
Após a conclusão do mestrado, em 2021, inscrevi-me no estágio da Ordem dos Advogados e, foi durante esse estágio que tive a certeza de que esta profissão é a minha verdadeira vocação.
Ao longo do estágio tive contacto com as mais diversas áreas de Direito, o que me permitiu adquirir bastantes conhecimentos e perceber que esta é uma área complexa cujo profissional terá de estar em constante aprendizagem e, foi algo nisso que desencadeou em mim esta verdadeira paixão que tenho por aquilo que faço.
Hoje, sou Advogada e a cada dia no exercício desta profissão percebo que todo o meu percurso, até agora, foi direcionado para isto, mesmo que não tenha percebido isso desde o início.
- O que a motivou a escolher Portugal para estudar e seguir carreira jurídica?
Apesar de ser portuguesa, nasci na Ucrânia e vim para Portugal com apenas 7 anos de idade, pois os meus pais decidiram procurar melhores condições de vida para nós.
Completei aqui em Portugal toda a escolaridade e, no final do 12º ano era impensável voltar para a Ucrânia uma vez que já não me imaginava a viver noutro país.
Portanto a verdade é que estudar em Portugal não foi uma escolha minha, foi dos meus pais, o que agradeço muito pois permitiu-me ter todas as oportunidades que tive até agora e permitiu-me traçar o meu percurso da forma como o fiz.
Como completei aqui toda a escolaridade estava quase intrínseco que também faria o ensino superior cá, sendo que nunca sequer me passou pela cabeça um dia regressar à Ucrânia para viver lá. Até porque o fator da língua iria dificultar muito pois ao longo dos anos fui ficando fluente na língua portuguesa, o que fez, por sua vez, perder bastantes capacidades de comunicação na língua ucraniana, o que iria dificultar (e muito!) o meu regresso para lá.
Portanto a verdade é que sou muito grata por termos vindo para Portugal, sempre adorei viver cá e para mim faria todo o sentido seguir a carreira jurídica cá.
- De que forma o conhecimento adquirido no mestrado em Criminologia tem impactado o seu trabalho como Advogada?
O mestrado em Criminologia foi bastante diferente da licenciatura em Direito, já que o seu grande foco é a investigação científica.
No 2º ano curricular do mestrado, para a conclusão do mesmo, na dissertação final era necessário fazer uma investigação científica sobre uma temática da Criminologia, o que me permitiu sair da minha zona de conforto e cair nesse que era um mundo desconhecido para mim.
Com esse projeto abri os meus horizontes, adquiri novas competências que agora utilizo diariamente na minha profissão, considerando que agora sou muito mais metódica, perspicaz, autónoma, confiante e trago comigo sempre muita vontade de aprender coisas novas e evoluir em todos os aspetos, quer sejam técnicos ou pessoais.
- Como é ser Advogada Associada numa Sociedade de Advogados como a CEG? Quais são os principais desafios e vantagens de trabalhar num ambiente colaborativo com profissionais de diversas áreas do Direito?
Ser Advogada Associada na CEG tem sido um privilégio dia após dia, sou muito grata por fazer parte desta equipa. Desde o início que fui muito bem acolhida por todos os meus Colegas e estão sempre prontos a ajudar face a qualquer dificuldade.
Este ambiente colaborativo é muito vantajoso para a nossa profissão uma vez que partilhamos ideias e tentamos todos, em conjunto, solucionar os problemas jurídicos, o que permite não só potenciar a relação entre colegas bem como estimular a nossa criatividade e dinamismo no âmbito da profissão.
Um dos grandes desafios é o convite constante para a saída da zona de conforto, o que pode ser bastante difícil por vezes, o que nos obriga a pôr à prova as nossas capacidades, o que torna tudo bastante exigente e, ao mesmo tempo, estimulante.
- Com a sua ampla experiência em diversas áreas do Direito, há alguma que considere particularmente cativante? Se sim, o que nessa área a motiva e desafia mais?
Felizmente já tive a oportunidade de ter contacto com quase todas as áreas do Direito, apesar de ainda exercer há relativamente pouco tempo como Advogada.
No entanto e, apesar de ter interesse em várias áreas, dentro do leque de Direito Civil, a área que considero mais cativante é o Direito de Família e Menores. Nesta área, os problemas jurídicos prendem-se com as relações familiares/interpessoais, deixando as pessoas envolvidas tão vulneráveis que a nossa intervenção, na defesa dos seus direitos, pode fazer toda a diferença na vida dessas pessoas. E a verdade é que, para mim, não há nada mais gratificante do que puder contribuir para a resolução desses conflitos, o que por sua vez também se pode tornar bastante desafiante, nomeadamente a gestão de expetativas do nosso cliente.
- Quais são, na sua opinião, as competências mais importantes que um Advogado deve ter/desenvolver para ter sucesso na profissão?
A área de Direito é bastante complexa, diariamente lidamos com as diversas alterações legislativas, o que significa que temos de estar em constante alerta e aprendizagem. Para além disso, na nossa profissão a relação que estabelecemos com o nosso cliente pode ser a chave do sucesso, a confiança que o cliente deposita em nós, como profissionais, é o ponto fulcral para tudo aquilo que se seguirá.
E, para que um Advogado consiga acompanhar a dinâmica do Direito e estabelecer esta relação de confiança com o cliente, que, a meu ver, são os dois grandes desafios desta profissão tem de desenvolver diversas competências a nível da empatia, resiliência, boa capacidade de comunicação, proatividade, dinamismo, organização, persuasão, capacidade para resolução de problemas, boa gestão de stress, capacidade de estabelecer um compromisso, capacidade para gerir as expetativas dos clientes, entre outras.
Estas são apenas algumas das competências que considero serem essenciais para a construção de um bom Advogado, dotado de ética profissional, em que o cliente pode depositar a sua confiança.
- Que conselho daria a quem está a ingressar no mundo da Advocacia?
Para quem pensa em ingressar ou já ingressou na licenciatura de Direito tem de estar consciente de que este é um percurso longo que pode ser muito desafiante, daí que é necessário ser muito resiliente e confiar no processo.
Ao contrário do que se costuma dizer, quem corre por gosto também se cansa, no entanto, no final tudo vale a pena.